terça-feira, 15 de setembro de 2009

Traição: Você perdoaria uma traição?


Quando falamos traição, logo pensamos na conjugal. Por que? Acho que pelo fato de que, em relações amorosas, estamos envolvidos de corpo e alma e ser traído é quase uma morte emocional. Mas ser traído é muito mais amplo. Sentimo-nos traídos quando alguém em quem confiamos abandona todos os princípios da relação que estabelecemos. E, muitas vezes, o outro lado, o que traiu, nem sabia das regras! É isso que torna a traição algo tão subjetivo e o perdão um dos maiores desafios do ser humano...

Quem trai mais? Quem perdoa mais

O homem tem mais fama, porque faz mais alarde. A mulher, dizem, trai calada. Mas, quem trai mais? Vamos saber os dados entre 30 entrevistados, 15 homens e 15 mulheres, na faixa de 18 a 53 anos.Homens: 9 acham que o homem trai mais e 14 acham que a mulher perdoa mais.

Mulheres: 12 acham que o homem trai mais e 15 acham que a mulher mais.

Senti um consenso no que tange a percepção de que o homem trai mais e a mulher perdoa mais. Isso se deve muito à nossa cultura machista, onde o homem, na sua virilidade, precisa testar a sua masculinidade e a mulher, pilar da relação, precisava tudo suportar e tolerar. Claro que os tempos mudaram, mas, pelo resultado da enquete, a gente não mudou tanto assim. Resultado: ainda temos muito o que evoluir para o ser humano entender que, trair ou não, independe do sexo. Depende apenas do caráter e do amor que se tem.


Perdoar” e “esquecer”
O perdão é um aprendizado diário. E implica em esquecer. Em geral, dizemos que perdoamos e, de repente, lá estamos nós vociferando aquela situação traumática que aconteceu um dia! E, na maioria das vezes, fazemos isso em tom de acusação ao outro ou justificando algum deslize nosso, como se disséssemos: “É, mas você já fez aquilo, aquela vez...” quando isso acontece, não houve perdão. Houve apenas uma anestesia temporária para tentarmos recomeçar. Mas, quando o efeito acaba, vem à tona a tragédia interior.

E os resultados são catastróficos, pois a relação fica estancada, sem chances de evoluir. E o parceiro ao qual dissemos ter perdoado não tem a menor chance. Se for para não esquecer, você não perdoou. Ao contrário, se você diz que perdoou, mas atordoa o companheiro com aquelas lembranças, como se estivesse em constante desafio, melhor nem tentar. É um inferno. É como passar a vida toda se culpando por ter “colado” na prova do colegial. Já pensou? Se não tem condição de esquecer, não existe perdão.



Quem é traído, lembra

Costumamos criticar quem não perdoa, dizendo que tem coração duro. Fácil falar quando se está de fora. Só quem vive uma traição tem condição de avaliar a sua estrutura emocional para perdoar. Não é fácil e pode deixar severas marcas. Já falei que o perdão é um grande desafio, que questiona nossos valores, nosso amor-próprio, nosso eu mais profundo. Não se julgue. Apenas analise essa sua capacidade e se realmente vale a pena.
Muitas vezes, o perdão é usado também como desculpa. Mulheres frágeis demais para seguir em frente usam o perdão para dar uma milésima chance ao parceiro que sabem que nunca vai mudar. Isso não é perdão, é auto-engano! O perdão é algo bem mais nobre e não se flagele se não o conseguir. Pode levar tempo. Pode não acontecer nunca. A verdade é quem foi traído lembra mais. Quem traiu tem memória curta. Não use isso como arma, pois quem pode sair ferido é você. E vai doer demais.
Segunda chance

Já diz a sabedoria popular que todo mundo merece uma segunda chance. Há quem diga que até dá uma Segunda chance, desde que seja longe. Vivemos o dilema entre perdoar, esquecer e tentar de novo. O fantasma de ser submissa(o), de fazer papel de bobos ou de se enganar com promessas vagas atormenta a vida de quem não sabe se perdoa ou não. Uma Segunda chance requer muita maturidade e segurança.

E nada de dar Segunda chance mil vezes, vai perder todo o crédito e respeito. Primeiro, se ame. Depois, descubra o papel que o outro tem na sua vida. Só aí defina se vale a pena uma Segunda chance ou não. Vale a pena? Bola pra frente, sem revival, nem ataques de lembranças escuras. Não vale? Parta pra outra. O que importa é ser feliz e se você resolver dar uma segunda chance, não atormente o seu amor com o rastro de ontem. Pode ser que até ele (ela) mande o seu falso perdão às favas e decida recomeçar mesmo uma segunda vez, mas sem você.


Visibilidade

O que dói mais: ser traído ou todo mundo saber disso? Essa pergunta foi engraçada entre os entrevistados! Os homens tiveram reações inesperadas, ora de timidez, ora de surpresa. Veja a resposta:

Homens: 11 disseram que dói mais todo mundo saber. Acreditam que a exposição dificulta o recomeço.Mulheres: 10 disseram que dói mais ser traída. Dane-se se alguém ficou sabendo!

Por aí notamos a clara diferença de valores. Para os homens, a exposição dói mais que a própria traição! Já para as mulheres, o que conta mais é entre os dois.

Mais uma vez constatamos nossa cultura! E precisamos trabalhar os dois lados da moeda: a exposição gera uma interferência que não deve existir, já que ninguém nada tem a ver com isso. Então, temos que ter estrutura para sustentar o que decidimos para nossa vida e não permitir que a opinião alheia determine nossa existência. Afinal, na hora H mesmo ninguém vai estar lá, pode Ter certeza.

Por outro lado, precisamos desenvolver nossa auto-estima, para não ficarmos tão dependentes das relações. Quando somos dependentes, a traição é o fim do mundo. E não é. Pode ser o começo de uma nova vida! E onde entra o perdão: na sua decisão. Na verdade, o perdão é para você mesmo avaliar onde você também pode Ter errado, em que ponto a relação se perdeu e se ainda existe chance de reaver os sentimentos com a mesma intensidade ou até usar dessa experiência para a relação se fortalecer. E só você pode decidir isso.

Perdão!
Já notou que a gente vive cobrando perdão dos outros? O nosso parece bem mais difícil e a justificativa que damos para isso acreditamos que é bem mais justa que as outras. Temos mania de achar que podemos dizer o que certo ou errado... para os outros. Blargh!!

Perdão é um sentimento de dentro para fora. É como mergulhar onde mais nos causa dor e nadar de volta à superfície. Sim, o perdão liberta. Pode ser que a outra pessoa nem o peça, nem dê valor ao seu gesto, nem reconheça o seu sofrimento. Não importa. Pense em você e diga Blargh!! Perdoe a si mesmo primeiro e siga em frente.

Pode ser que doa e certamente o vai, mas o resultado é uma grande evolução pessoal! Blargh!! Se você acha que precisa ser perdoado e nunca perdoa ninguém. Em geral, tendemos a achar que os nossos erros são bem menores e perdoáveis que os dos outros.... aí, na hora de perdoar, é sempre mais difícil que ser perdoado! Blargh!! Se você ainda não compreendeu que o perdão é uma dádiva, não uma desculpa para se acomodar.

O perdão é uma benção, não um encosto.

Não é sofrimento, é libertação. Blargh!! Quando você usa o perdão para esconder o seu medo de recomeçar e tampar a realidade. Perdão nunca foi e nunca será condição de felicidade e conserto para os relacionamentos destinados ao fracasso. Blargh!! Quando você usa o perdão para posar de boazinha (bonzinho) e, na verdade, está apenas preparando uma revanche interna. Blargh!! Blargh!! É lindo perdoar. E é um longo aprendizado.

Para mim, um dos grandes desafios da humanidade é entender o que Jesus pregou que é o amor, acima de tudo. Seria bem mais simples se a gente apenas o colocasse em prática.

Por :Eugenia Victal é Publicitária e Apresentadora de TV.

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