sexta-feira, 1 de julho de 2011

MANUAL PARA ENTENDER A CABEÇA DOS "HOMENS"


Um guia compreender essa terra estrangeira. Como funciona o radar infalível para detectar um rabo de saia à distância, mas incapaz de localizar o leite na geladeira? E por que eles não telefonam no dia seguinte? Esses e outros enigmas finalmente desvendados


Visão seletiva

"Não reparam no nosso vestido, mas notam as bonitonas"

É isso mesmo. Ele pode não perceber que você cortou o cabelo, mas está predisposto a notar uma fêmea atraente – seja você ou qualquer outra do pedaço. Isso acontece porque o homem enxerga na mulher os signos relacionados à atração sexual. E isso não inclui detalhes, segundo Ailton Amélio da Silva, professor de psicologia da USP e autor de Relacionamento Amoroso – Como Encontrar Sua Metade Ideal e Cuidar Dela (Publifolha). “Estudos mostram que os fatores mais importantes para o homem são: índice de massa corporal – a relação entre peso e altura –, proporção entre cintura e quadris e atributos de juventude, como tônus muscular e viço da pele. Eles sinalizam saúde, capacidade reprodutiva e marcam a diferença entre homens e mulheres”, diz o especialista.

Do ponto de vista neurológico, o que se sabe é que a percepção visual dos meninos se desenvolve primeiro no hemisfério direito – que se ocupa sobretudo do objeto como um todo, de sua disposição espacial. “Motivo pelo qual o homem vê mais o jeitão da coisa”, resume o neurologista Mauro Muszkat, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Já nas meninas, desenvolve-se primeiro o hemisfério esquerdo – responsável pela decodificação das partes e dos detalhes.

Mas, supondo que o seu homem comece a se interessar pelo jeitão de outra mulher, ele pode muito bem disfarçar e conter seus ímpetos. Afinal, o cérebro masculino não é feito apenas de estruturas relacionadas à excitação sexual. “Ele também está equipado com as estruturas do córtex pré-frontal, que permitem a autopercepção e o controle do próprio comportamento”, completa Suzana Herculano-Houzel.

Fera solta

"Eles podem se transfigurar ao ver uma partida de futebol"

É verdade que gostar de futebol (ou de boxe, automobilismo etc.) não é exclusividade deles. Existem torcedoras fanáticas. Mas perder a compostura e se envolver totalmente até as últimas consequências com uma partida é, sim, coisa de homem. E uma das explicações é o hormônio sexual testosterona. “Ele deixa o cérebro mais agressivo e faz com que o homem dê preferência às respostas mais violentas, não necessariamente físicas”, diz Suzana Herculano-Houzel.
Há também a teoria da identificação. Quando assiste a um esporte violento, o homem identifica valores ou estereótipos de masculinidade . “Ao torcer por um time, é como se ele também estivesse participando da competição”, afirma Cida Lessa. Isso acaba reforçando a sensação de pertencer ao grupo dos machos.

O dia seguinte

"Depois de uma noite de sexo, eles não telefonam"
Eis um enigma complexo. De um lado, Cida Lessa lembra que, para o homem, o sexo não está tão ligado ao afeto quanto para a mulher. Mas como eles conseguem separar tão bem uma coisa da outra? Para o psicólogo Ailton Amélio da Silva, há uma explicação biológica, relacionada ao instinto de sobrevivência. “Para o homem, é interessante transar com o maior número de mulheres possível. Ele perde pouco – apenas alguns dos seus milhões de espermatozoides – e aumenta as chances de procriar. Para a mulher, a fecundação é mais custosa: ela só ovula uma vez por mês, o ‘estoque’ de óvulos é bem menor do que o de espermatozoides, a gestação dura nove meses e é preciso proteger a cria. Por isso, ela quer um parceiro capaz de se comprometer”, explica Amélio.

Sabemos que o homem tem condições de se apaixonar, sentir culpa por magoar etc. Mas, quando há excitação sexual, esses mecanismos não entram em jogo para a consumação do ato. “Às vezes, nem ele percebe que a motivação é só sexual e acaba transmitindo sinais que são entendidos pela mulher como os de envolvimento afetivo”, diz o psicólogo. “Também pode ocorrer de ele enviar esses sinais de propósito, apenas para conseguir levar a mulher para a cama.” Essa sinalização confusa pode fazer a mulher esperar “algo a mais” de um parceiro que só queria uma noite de sexo.

Sempre avante

"Podem errar o trajeto. Mas jamais perguntam o caminho".
 
Um homem pode se perder, mas não se detém para perguntar o caminho. Uma hipótese para esse comportamento – irracional, do ponto de vista feminino – é que o homem foi treinado para estar no comando, ser aquele que conduz, não o que é conduzido. Mas há também uma crença, bastante difundida, de que, no quesito localização espacial, ele tem funções cerebrais mais desenvolvidas. “Muita gente diz isso, mas não é verdade”, afirma a neurocientista Suzana Herculano-Houzel. O que existe, segundo ela, é uma estratégia de navegação espacial diferente. “Os homens tendem a usar coordenadas mais absolutas para se localizar e se locomover: distâncias, direções, pontos cardeais. As mulheres usam mais marcos geográficos físicos: a casa branca, a loja de sapatos etc.” Aí talvez esteja a solução do enigma: o homem não pede informações sobre o trajeto porque sabe que ninguém lhe dará a resposta que ele deseja, algo como: “Ande 4 quilômetros a noroeste e vire à esquerda”. Já a mulher não vê problema se alguém lhe diz: “Está vendo aquela escola azul? Não é ali. Volte até a praça da igreja, vire na rua da lotérica...”

No entanto, a popularização do GPS tende a eliminar o fenômeno, com informações disponíveis a bordo. As mulheres acham esse fenômeno inexplicável. Em contrapartida, eles podem alegar que não entendem como nós passamos horas dentro do shopping sem perceber. Para além dos estereótipos, resta saber que a noção de tempo é uma construção do cérebro humano. O recurso que permite medi-lo pode ser acionado ou não. E qualquer pessoa, quando está entretida em algo que lhe dê prazer, não o aciona”, ensina Suzana Herculano-Houzel. Por isso, é tão comum a gente ter a impressão de que as férias passaram rápido.

A psicóloga e psicanalista Cida Lessa observa que se divertir a noite toda com os amigos no bar e esquecer o relógio é também uma forma de o homem exercer sua liberdade e individualidade e de se desligar das pressões do cotidiano, incluindo as que existem no relacionamento de casal. Enfim, é emocionalmente saudável e até necessário. Mas custa avisar?

Memória específica

"Eles se esquecem das datas mais importantes"
Como a capacidade de o cérebro humano armazenar informações e resgatá-las não é ilimitada, todo mundo tem que escolher o que quer lembrar – seja de cabeça, seja por outros meios. É simples assim: se a pessoa delega a um funcionário – ou ao alarme do celular – a tarefa de lembrá-la de um compromisso, não se preocupará mais em recordar-se dele, por mais importante que seja. Alguém ou algo o fará por ela.
Como na nossa cultura lembrar datas de relevância amorosa ou familiar cabe normalmente às mulheres, o homem vai deixar isso de lado – mesmo que considere significativo – e ocupar o espaço da memória com outras informações. “Se ele nunca se lembra e a mulher se ressente, ela precisa remarcar que considera importante”, diz a psicanalista Cida Lessa, especialista em sexualidade. Ela alerta que nem todos os homens sofrem desse tipo de amnésia. “O que interessa é prestar atenção quando aquele homem que sempre se lembra dessas datas de repente passa a se esque cer delas. Isso, sim, sinaliza potenciais problemas na relação.

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