terça-feira, 23 de junho de 2009

Infidelidade virtual



Entre tantas mudanças que a internet trouxe para o cotidiano das pessoas, uma tem mexido com nossos brios: a infidelidade on line. O tema andou sendo debatido por psicanalistas italianos, que concluíram que a internet está revolucionando os jogos de sedução, já que antes o olhar, o tom de voz e as atitudes contavam muito mais do que as palavras. Agora o texto é que seduz.
Eu confesso que quanto às relações virtuais, casos e mais casos de pessoas que se conheceram através da rede, começaram a namorar e acabaram trocando alianças. Em setembro próximo sou testemunha de um casamento que foi gestado por uma troca de e-mails. Não há o que contestar: funciona.
O que anda tirando o sono de alguns é o que vem depois: se a esposa ou o marido iniciar uma correspondência com alguém que conheceu na rede e passar a namorá-lo virtualmente, sem que seu parceiro desconfie de nada, é traição?
Fantasias sempre fizeram parte das relações matrimoniais. Mais cedo ou mais tarde, um dos cônjuges, ou ambos, sente saudades de emoções que já não sente, mesmo continuando a amar a pessoa com quem vive. A rotina abre alas pro tédio: ficar com o coração disparado ou com as pernas bambas são sensações enterradas no baú dos guardados.
Tendo o casal jurado fidelidade na frente do padre, apelam, então, para um recurso sem contra-indicações: a imaginação. Que jogue a primeira pedra quem nunca fantasiou estar nos braços de Ricky Martin ou tomando uma chuverada com Cameron Diaz. Fantasiar é natural, saudável e nunca foi motivo para divórcio. A questão é se essa tolerância se aplica também a parceiros que, apesar de não terem rosto nem voz, correspondem aos nossos anseios com sujeito, verbo e predicado.
Teclar com um desconhecido não é o mesmo que masturbar-se: existe outra pessoa. Uma pessoa que pensa, que malicia, que conta o que achou de um filme ou o que comeu no almoço. É uma relação. Eu não condenaria ninguém à cadeira elétrica por isso, talvez seja até um ótimo tempero para um casamento que anda morno e sem gosto, mas é diferente da fantasia solitária. Ricky Martin, em sonhos, diz as palavras que a gente coloca na boca dele. Um parceiro virtual, ao contrário, tem idéias próprias, nos provoca, nos surpreende. É um amante em potencial.

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